sábado, março 04, 2017

O turismo na “onda” do ´surf`

Portugal é um país de futebol. Quer apreciemos ou não, eventos de sucesso como o Euro 2004 atraíram perto de um milhão de turistas para Portugal. Contudo, os grandes investimentos subjacentes a este evento desportivo de enorme envergadura originaram acesas discussões. Então, e se conseguíssemos atrair o mesmo número de turistas sem qualquer investimento? Parece pouco realista, no entanto, refiro-me ao facto de Portugal ser capaz de aproveitar as suas vantagens competitivas para ampliar a proposta de valor do país ancorada num recurso que nos distingue – o Mar Português.  
Portugal Continental dispõem de mais de 800 quilómetros de costa, de um clima temperado com bastante sol e de condições naturais únicas para o desenvolvimento do Turismo Náutico, como complemento do produto turístico “Sol e Mar”. A combinação destas potencialidades com a realização de prestigiados eventos mediáticos internacionais tem vindo a posicionar Portugal como o principal destino de surf da Europa e um dos melhores do Mundo, o que me motivou a explorar este segmento de aposta do turismo no contexto do nosso país.
Existe uma multiplicidade de locais em Portugal que todos nós associamos à prática desta modalidade. Por exemplo, a Ericeira foi considerada pela organização norte-americana, Save the Waves Coalition, em outubro de 2011, como a Primeira Reserva de Surf da Europa e a Segunda do Mundo, depois de Malibu, na Califórnia. Mais a norte, Peniche, é sinónimo de mar, de pesca e, claro, de surf. É nesta cidade que se localiza a Praia de Medão, mais conhecida por Supertubos, onde decorre anualmente uma das etapas do Campeonato Mundial de Surf, o “RipCurl Pro”.
Mas não se pode falar de surf sem falar na Nazaré pois, afinal, foi nesta vila piscatória que o havaiano Garrett McNamara entrou para o Guinness World Records ao surfar, em novembro de 2011, uma onda com cerca de 30 metros. A partir daí, a Praia Norte da Nazaré, onde o surf fez crescer a economia, tornou-se uma atração turística tanto para surfistas destemidos como para fãs deste desporto que se deslocam para observar o fenómeno das ondas gigantes.
Dados do Instituto Português do Desporto e da Juventude, I.P., revelam que o número de surfistas federados tem registado uma tendência crescente ao longo do tempo e que, em 2015, existiam 2.144 surfistas federados em Portugal. No entanto, de acordo com a Associação Nacional de Surfistas, este número corresponde apenas a cerca de 1% dos praticantes da modalidade, indicando que a grande maioria pratica este desporto por lazer.
Para além disso, nos últimos anos, a aposta nesta modalidade em Portugal levou à criação de inúmeras escolas de surf, à inauguração de lojas de renome como a Lightning Bolt e a Ericeira Surf Shop, ao aparecimento de marcas especializadas no fabrico de pranchas como a Boardculture, à criação de revistas nacionais de surf, etc. Para além disso, registou-se um aumento significativo na oferta de alojamentos não-tradicionais, como os Surf Camps e os Surf Hostels.
Neste sentido, de acordo com a Associação Nacional de Surfistas (2015), o impacto económico do surf em Portugal ronda os 400 milhões de euros anuais quando consideramos a indústria do surf, o turismo associado ao surf e a receita anual gerada pelos surfistas sempre que praticam o seu desporto de eleição.
Considerando o nosso território nas suas dimensões marítima e terrestre, 97% de Portugal é mar, pelo que, tal como comecei por referir, no surf, não é necessário construir “estádios”. Nós temos o recurso e a capacidade de atrair turistas para uma modalidade que prima por ser não sazonal, ambientalmente sustentável e “sem bilheteira”.
Na minha opinião, esta vocação de Portugal para o surf, aliada aos serviços complementares turísticos de elevada qualidade, como o alojamento e a gastronomia, constituem uma oportunidade para a dinamização das economias locais e, sobretudo, para o desenvolvimento do país em termos turísticos.
Por tudo o que foi dito, o surf tem ganho relevância mundial e, prova disso, é o facto de estrear-se nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, que se irão realizar em Tóquio, no Japão. Em termos nacionais, considero que Portugal deveria apostar neste “Mar de oportunidades” em todas as suas vertentes e delinear uma estratégia que aposte no Surf enquanto negócio, criador de emprego e desenvolvimento, nunca esquecendo a valorização da costa, das ondas e das nossas belíssimas praias.

Ana Catarina Pereira Pimenta

 (Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/17)

Sem comentários: