terça-feira, março 21, 2017

“Turismo Negro”: de popularidade a negócio turístico

          O conceito de “Turismo Negro”, embora desconhecido pela maioria das pessoas, tem ao longo do tempo despertado interesse e fascínio. Esta é considerada por alguns autores como uma das mais antigas formas de turismo: “ desde que as pessoas são capazes de viajar, que têm sido atraídas – intencionalmente ou não – para lugares, atracções ou eventos que estão, de uma forma ou de outra, relacionados com a morte, o sofrimento, a violência e o desastre” (Stone, 2005). Outros autores encaram o Dark Tourism como um fenómeno moderno, com início no século XX (Lennon e Foley, 2000). Sharpley (2009) diz-nos que esta área de estudo foi crescendo de popularidade junto dos turistas e académicos.
Segundo a minha opinião, esta popularidade está relacionada com o modo como as pessoas encaram a morte, ou seja, como inevitável, no entanto evitando falar de dor e de perda, mas ao mesmo tempo refletindo em como será a vida após a morte e formulando opiniões. Para isso, segundo Walter (2009), existem meios que atuam como mediadores da morte, que são: “arqueologia, sepulturas, genealogia, música, literatura, lei, família, língua (oral e escrita), fotografias, História”. Estes três últimos dão origem, na nossa sociedade, ao turismo e aos meios de comunicação.
            Existe uma curiosidade intrínseca em todos nós e que se pode verificar em casos em que se observa um acidente de viação, em que as pessoas se juntam a observar, num misto de curiosidade e terror. Um exemplo foi quando ocorreu o ataque terrorista ao voo 103 da Pan Am, em Lockerbie (Escócia), em 1988. A imprensa relatou uma fila de mais de 9km para o local do acidente, e a AA (Automobile Association) recebeu pedidos de mais de 2000 pessoas a perguntar qual o melhor caminho para o local.
            Atualmente, os cemitérios, ou seja o turismo cemiterial também tem vindo a crescer. Estes servem de local de culto, de reflexão pessoal, e por isso têm uma forte carga de simbolismo religioso, histórico e cultural.
            A preservação de alguns lugares como sítios de memória da História é importante para que não se voltem a repetir erros do Passado. Servem de exemplos de como a Humanidade por vezes esquece o valor da vida humana. Destinos como Auschwitz (campos de concentração), Vilnius (Museu de Homenagem às vítimas do Genocídio), Latvia (Prisão Hotel e Museu), Chernobyl (acidente nuclear), Nova Iorque (World Trade Center), Rio de Janeiro (favelas), entre outros, são os locais mais procurados e visitados pelos turistas em todo o mundo.
       A oferta turística deste tipo de turismo é diversificada e em alguns destinos ocorreram de facto mortes e atrocidades, outros são construídos (propositadamente) para recriar eventos sombrios. Temos aquilo que se chama de Turismo Negro mais escuro e o Turismo Negro mais claro, segundo o espectro de tonalidades da Oferta de Turismo Negro de Stone (2006).
Economicamente, estes locais promovem a sustentabilidade e a preservação através do dinheiro proveniente dos turistas. No entanto, será ético que a partir de um acontecimento trágico ou de um local como um campo de concentração, onde ocorreram imensas mortes a judeus, se tire vantagem para promoção do turismo? Essa é uma questão que me preocupa, isto é, a morte ser usada apenas como um negócio turístico com o intuito de gerar lucro, sem se refletir no propósito maior de alguns destes locais.
Para concluir, concordo que o interesse por locais de ligação com a morte é algo que sempre esteve presente na nossa vida e que a partir da época moderna este começou a ser mais conhecido como forma de Turismo. No entanto, não concordo com o facto das agências turísticas se aproveitarem de situações trágicas ou acontecimentos fatídicos para gerarem lucro em volta desses locais.

Sandra Daniela Silva

Fontes:
https://pt.slideshare.net/patricia-vitorino/turismo-negro-24648365,etc.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]

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