quarta-feira, maio 03, 2017

O milagre da multiplicação

Foi a 29 de março de 2015, um domingo, que foram inaugurados os primeiros voos de companhias low cost para os Açores. Depois de liberalizado o espaço aéreo, é necessário encarar novos desafios.
O ano de 2017 revela-se, para o Governo Regional, o ano chave para o desenvolvimento do turismo do Arquipélago e traduz-se nisso mesmo. O orçamento de 2016 aplicou 8,6 milhões de euros à promoção da região, lá fora e cá dentro, e o ano de 2016 acabou generoso. Verificou-se um salto de 20 milhões de euros desde a era da pré-liberalização, nas receitas hoteleiras. Assim, passou de menos de 40 milhões de euros para 60 milhões de euros nos nove primeiros meses de 2016.
O cenário atual é bem diferente e a hotelaria açoriana está a receber mais de 1,3 milhões de hóspedes e a empregar mais 24% do que há dois anos. É o mesmo que dizer que, nos primeiros nove meses de 2016, os Açores bateram os números do conjunto de 2015, que, já de si, foi ano recorde. A multiplicação dos euros foi o resultado de um trabalho intenso para posicionar o ‘destino Açores’ no quadro do turismo mundial. Este tem-se vindo a fazer ao longo dos últimos anos.
Sem sombra para dúvidas que o novo modelo de acessibilidades aéreas à região beneficiou o crescimento do setor do turismo, contudo não podemos esquecer que este trabalho se iniciou ex-ante à liberalização aérea.
No entanto, as contas falam por si: o arquipélago tem agora mais de mil estabelecimentos turísticos (a esmagadora maioria, cerca de 800, são alojamentos locais) a funcionar na época alta, quando, antes da liberalização, eram à volta de 350 estabelecimentos; o número de hóspedes passou de 396 mil no conjunto de 2014 para 509 mil no acumulado de janeiro a setembro de 2016; a taxa de ocupação da hotelaria tradicional passou de 34% para 50%, no conjunto, de janeiro a setembro de 2016, isto é, os hoteleiros já conseguem ocupar metade das camas que têm disponíveis, uma marca que nem em 2007, ainda hoje o ano de referência para o turismo nacional, foi atingida
Aparte toda esta evolução registada, sobram alguns significativos desafios. Um dos maiores problemas revela-se na mão-de-obra que necessita de ser recrutada para os estabelecimentos de hotelaria. Encontrar pessoas qualificadas dentro da ilha é extremamente difícil, e o recrutamento do exterior exige um pacote salarial muito grande.
Surgindo também a questão da proteção da "galinha dos ovos de ouro": a natureza. Os açorianos estão convencidos de que o boom do turismo não vai estragar o arquipélago, por dois motivos: primeiro, porque não acreditam que o Governo vá deixar “que a construção se descontrole”; segundo, porque estão todos “muito empenhados” em que o que têm de melhor seja preservado. Como genericamente afirmam, “Se a nossa natureza não existir, o que é que nos resta?
Desacordos aparte, numa coisa há consenso: a necessidade de haver uma aposta em todo o Arquipélago. A região tem e é conhecida pelos instrumentos atrativos que tem em termos de investimento, em especial nesta área, para o turismo.

Ana Margarida Ferreira Lima

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)

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