domingo, março 11, 2018

Açores: destino turístico diferenciador

Pensar no turismo em Portugal conduz, indiscutivelmente, ao destaque das ilhas na lista de destinos mais cobiçados. Por um lado, tem-se a Madeira, à qual se associa a imagem de luxo dos grandes hotéis, a animação das festas (como o Carnaval, tradição já enraizada), além das belas paisagens. Já o arquipélago dos Açores, apresenta-se desde logo como um “paraíso verde” na sua beleza natural arrebatadora, com uma flora praticamente intocada pelo Homem e uma riquíssima fauna marítima.
Numa conferência em dezembro de 2017, organizada pelo Expresso e pela Tranquilidade/Açoriana, foi discutido o futuro do turismo açoriano, chegando-se à conclusão de que “o caminho a seguir não pode ser o do turismo de massas”, que iria apagar toda a genuinidade e pureza. Esta apreciação é corroborada por João Welsh, administrador do grupo CBK: “A melhor estratégia para os Açores é não se transformar num destino turístico, porque se for vai perder os seus fatores diferenciadores”. Entenda-se o “destino turístico” como mais um entre os demais, ou seja, tal como refere o professor  Miguel Muñoz Duarte (NOVA – School Business & Economics), importa “colocar os Açores no mapa internacional” sem os deixar cair na banalização “da praia da Rocha ou o do Zezé Camarinha”.  A ideia é criar uma “marca Açores”, ímpar e apostada na natureza. O próprio CEO da Tranquilidade/Açoriana, o holandês Jan de Pooter, realçou o imenso potencial, que pode ser comparado até ao da Nova Zelândia, país referência no turismo da natureza.
Consultando os dados do INE, percebe-se que, a partir de 2015, houve um crescimento mais acentuado no turismo, tendo, nesse ano, o número de dormidas aumentado 18%, e, em 2016, 21,1%. Esta tendência parece manter-se e, em 2017, 59% dos turistas eram estrangeiros, vindos sobretudo do Norte da Europa. Apesar do panorama positivo, ainda há uma larga margem de evolução e, para a possibilitar, um dos aspetos a considerar é a segurança (por ser um arquipélago, os Açores estão sujeitos a vários riscos, nomeadamente abalos sísmicos). Nesse sentido, segundo uma publicação do Diário de Notícias, foi criado em 2017 o Centro Internacional de Investigação dos Açores (Air Center), conjuntamente com mais 7 países e várias universidades). Os objetivos primordiais, segundo Manuel Heitor, atual ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, são a “criação de emprego” e “um futuro sustentável”, a partir de uma avaliação das alterações do clima e das suas consequências.
Sustentabilidade significa um avanço económico, social e ecológico correto, e é esse o trajeto que os Açores pretendem seguir. Como tal, a recompensa parece chegar já em 2019 sendo o primeiro arquipélago no mundo certificado como destino turístico sustentável. Este prémio será concedido pelo Global Sustainable Tourism Council e engloba vários critérios bastante rigorosos. Marta Guerreiro, secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo referiu que “é um processo longo e envolve toda a comunidade”, exigindo-se assim um esforço de todos para que o reconhecimento seja alcançado e, sobretudo, não seja perdido.
Entre os monumentos e as reservas naturais, as paisagens rurais e as zonas balneares, muitas são as possibilidades para desfrutar da experiência do deslumbramento nas nove ilhas desta região: lagoas, baías, furnas, picos, traços indestrutíveis de origem vulcânica, miradouros, vales e montanhas, diversidade da fauna e flora, o interesse arquitetónico dos centros urbanos (o Centro Histórico de Angra do Heroísmo é património mundial desde 1983). Não é por acaso que em 2016 os Açores foram eleitos, pela National Geographic Traveler (revista holandesa), um dos locais mais bonitos do planeta. E há ainda tanto para descobrir por entre as muitas particularidades, que se torna impossível resistir a este encanto telúrico único. Desta forma, a palavra-chave é preservar o natural e o singular para que os Açores sejam “o destino” e não “mais um destino”.

Inês Magalhães Castro Silva

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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