sábado, março 03, 2018

Amesterdão: um canal entreaberto?

Atualmente, Amesterdão é um destino europeu muito atrativo, sendo várias as razões que contribuem para tal posição de destaque. A capital dos Países Baixos exibe uma vasta rede de canais que são Património Mundial da UNESCO e, além de embelezarem a cidade, permitem explorá-la através de cruzeiros. Quem visita esta cidade pode apreciar diversos monumentos e museus de renome mundial, resultado do seu passado histórico. O facto de ser uma cidade amiga do ambiente vem também valorizar este destino, onde as bicicletas são meios de locomoção com muita adesão, tanto pelos residentes como pelos visitantes. Parte da procura turística por Amesterdão surge também pela sua maior tolerância perante o consumo de marijuana e a prostituição.
Considerando todo o leque de atrações que Amesterdão oferece, torna-se compreensível a sua elevada procura nos últimos anos. Segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo relativos a 2016, as contribuições diretas do setor do turismo para o PIB de Amesterdão tiveram um peso estimado de 4,1%. O setor exibe ainda um efeito positivo no emprego, sendo que um em cada dez empregos na cidade foi diretamente criado pelo turismo e são previstas taxas de crescimento rápidas do emprego no setor do turismo para a próxima década. Porém, o elevado número de visitantes em comparação ao número de residentes, cerca de 6 visitantes per capita em 2016, gera preocupações.
O turismo massificado pode, por vários meios, provocar alterações negativas na qualidade de vida dos residentes que, temendo as consequências do turismo excessivo nas circunstâncias futuras, poderão iniciar protestos contra os densos fluxos de visitantes, em atos de turismofobia. Respondendo ao problema, em Amesterdão está a ser aplicada uma abordagem alternativa para dispersar as multidões e evitar a imposição de limitações ao turismo. Nos últimos anos, a equipa I Amsterdam, encarregue de supervisionar o turismo na cidade, estudou o comportamento dos visitantes através dos dados registados nos cartões City Card, que são cartões adquiridos pelos mesmos para obter acesso a atrações, transportes e descontos na cidade. Tendo encontrado padrões repetitivos nos percursos diários dos visitantes, a equipa passou a intervir com sugestões de diferentes atrações e de horários de visita menos movimentados como estratégia para evitar a sobrelotação dos principais pontos turísticos. Outras medidas que tiram proveito das tecnologias são: a transmissão de imagens ao vivo para mostrar o estado das filas para as atrações mais populares; e o envio de notificações aos utilizadores da aplicação móvel Discover the City para alertá-los quando os locais que pretendam visitar estiverem demasiado cheios, incentivando à exploração de diferentes zonas. A implementação destas medidas estratégicas visa manter a cidade recetiva ao turismo e criar espaço para um desenvolvimento turístico sustentável, a longo prazo.
Em cidades como Barcelona e Veneza, a tensão social atingiu níveis graves. O ambiente é de uma forte aversão face ao turismo por parte dos residentes, que associam o elevado número de visitantes a vários problemas urbanos. Nestes casos, perante o descontentamento manifestado pelos locais, as políticas adotadas para atenuar o problema têm sido mais restritivas, limitando o número de visitantes acolhidos. Contudo, em economias onde o setor do turismo possui um grande peso, a redução do grau de abertura poderá trazer efeitos negativos. É nessa nota que em Amesterdão, apesar das insatisfações geradas pelo turismo excessivo, o peso do setor sobre a economia do país atua como um incentivo para que se procurem soluções adequadas ao contexto social e económico. Os resultados dessas medidas ditarão a direção das futuras decisões políticas.
Se ainda assim o futuro ditar que é inevitável um apertar das regras mais intenso para que se atinjam volumes sustentáveis de visitantes, será necessário encontrar meios para superar tal desfecho, sendo que à cidade em questão seguramente não lhe falta potencial!

Ana Azevedo

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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