sábado, abril 28, 2018

O Turismo do Chá: um novo turismo?

O chá, como sabemos, é conhecido e consumido mundialmente, ainda que em certos países, como é o caso do Japão, China e Inglaterra, essa prática seja recebida com mais entusiamo. No caso de Portugal, sabemos que o hábito de beber chá não é o mais praticado, mas é na ilha portuguesa dos Açores que está sediada uma das fábricas de chá mais visitada do mundo: a Fábrica de Chá Gorreana. Esta fábrica, localizada na ilha de São Miguel, corresponde uma das mais antigas plantações de chá da Europa já que a sua atividade remonta ao ano de 1883, fruto de um negócio de família liderado por Ermelinda Gago da Câmara e José Honorato.
Hoje em dia, esta fábrica-museu é reconhecida internacionalmente e recebe milhares de visitas turísticas, mais concretamente, cerca de 27 mil visitantes por ano, segundo uma notícia da RTP, de 2008. Por isso, não é de admirar que as visitas guiadas tenham constituído uma aposta de sucesso.
Durante a visita, o turista é convidado a provar o chá nas suas mais variadas fases de maturação: chá branco, chá verde e chá preto, além das variedades em que lhes são adicionados elementos aromatizantes, como por exemplo o chá preto com cascas de laranja! Nesta visita, o turista também poderá contemplar o espólio de máquinas Marshall datadas de 1840, ainda em funcionamento. Há, ainda, a possibilidade do turista experienciar a atividade de colheita do chá, como as conhecidas “apanhadeiras”.
No caso de Portugal Continental, o negócio do chá tem já dado provas de que há interesse por parte dos consumidores e que há turistas interessados em saber mais sobre esta prática milenar. É, no entanto, o clima de Portugal, mais propriamente o clima do litoral português, que proporciona a realização do cultivo de chá nos campos de Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort. Este casal, cujas profissões anteriores nada tinham que ver com o atual negócio, possuem uma vasta área, onde produzem o seu próprio chá e onde, por vezes, contam com a ajuda de um outro casal, japonês. Hoje em dia, o chá que comercializam é já revendido em vários pontos do país e tem demonstrado que os portugueses, afinal, não perderam o seu bom costume, não fossem eles os responsáveis pela introdução da camelia sinensis na Europa.
Com toda a boa receção desta prática, o casal decidiu abrir o seu campo de trabalho aos portugueses e a todos aqueles que nutrem interesse por conhecê-lo. Portanto, todas as últimas sextas-feiras de cada mês, nos horários das 10h30 e 14h30, é possível participar nas visitas guiadas lideradas por um elemento do casal. Para tal, basta marcar a visita enviando um email para o endereço info@chacamelia.com.
O mais interessante ainda, neste projeto, é a junção entre culturas. Poderíamos associar de imediato, com esta afirmação, a junção de hábitos e costumes de países diferentes, mas o casal alemão vai mais longe ao cruzar variedades de chá japonês com plantas que Portugal conhece bem como, por exemplo, lúcia-lima, flor de sabugueiro, pétalas de rosa, entre outras. Recentemente, o casal decidiu fazer algo inédito: o que é que torna o chá ainda mais português? Um toque de Vinho do Porto! Isso mesmo! Mas desengane-se quem pense que o processo se realiza como o velho hábito inglês de adicionar leite ao chá, não.  O que é feito é muito simples: as folhas da camelia sinensis vão direitinhas para as velhas pipas do vinho do Porto e adquirem toda a complexidade desta bebida glamourosa. Durante seis meses, o chá adquire propriedades muito interessantes, com notas diversificadas, e este método está na origem do nome do chá: PipaChá!
Ainda há outra pérola do chá em território nacional: a Companhia Portugueza do Chá, em Lisboa. Bem sabemos que a capital é o epicentro do turismo em Portugal e que conta com milhares de visitantes anualmente.  Se é óbvio que o Mosteiro de Jerónimos, assim como a Torre de Belém, são pontos obrigatórios nos guias turísticos da cidade, tal cenário não seria de imaginar para uma loja de chá. Mas esta loja não é uma loja qualquer. Mais de duzentos lotes de chá de todo o mundo são vendidos neste local tão recôndito situado na Rua do Poços dos Negros. E, uma vez lá, tem-se a sensação de que estamos realmente num local de visita obrigatória. É cada vez maior a procura por este produto, assim como por eventos relacionados com ele, desde workshops a visitas e experiências nos campos de chá. Para o futuro, lança-se o desafio de Portugal pensar em explorar este potencial; a possibilidade de criar um roteiro dedicado ao chá seria mais um ponto de interesse turístico e que poderia, muito certamente, arrecadar vantagens económicas. E a Fábrica-museu Gorreana, os Campos de Nina e Dirk assim como a Companhia do Chá Portugueza são prova viva disso.

Joana Virgínia Lopes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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